Manuel Clemente realça visão "otimista e esperançosa"
Manuel Clemente, que esteve no seminário dos Olivais aquando da nomeação de José Policarpo como diretor, lembrou que, naquela altura, "era uma pessoa muito lúcida, muito atenta aos acontecimentos".
"Estávamos antes da mudança do regime, mas ele já tinha o critério evangélico para nos ajudar a mim, e a outros padres que estudávamos teologia, a perceber as coisas", afirmou Manuel Clemente, à chegada à Sé de Lisboa, onde permanece em câmara ardente o corpo do patriarca emérito José Policarpo, que morreu na quarta-feira.
Manuel Clemente, chamado anos mais tarde a trabalhar com José Policarpo, realçou que "foi marcante a sua perspetiva" e "o critério evangélico positivo dos acontecimentos, para deles tirar a melhor lição para o futuro".
O patriarca de Lisboa acentuou ainda "a grande semelhança de temperamento" entre José Policarpo e o papa Francisco.
Clemente disse ainda que tinha "uma amizade de meio século" com José Policarpo, e que guardava dele uma imagem de "referência", revelando que esteve com o cardeal, numa das últimas noites, "depois do jantar".
"Ele parecia tão bem. Sempre com a conversa mantida há tantas décadas, falando com boa vontade das coisas, de pessoas conhecidas, dos acontecimentos, com muita expectativa deste processo lançado pelo papa Francisco", afirmou.
O patriarca de Lisboa salientou ainda que, "nestes últimos meses, foi tudo muito pacífico" e que José Policarpo "estava a retomar a atividade na Paróquia de Sintra".
"Deus quis doutra maneira", afirmou o patriarca de Lisboa, que sucedeu no cargo a José Policarpo.
Antes destas declarações, o patriarca de Lisboa já havia prometido manter viva a herança pastoral do cardeal José Policarpo, numa nota dirigida ao clero, na qual exorta ao toque de defuntos nos templos de Lisboa à hora das exéquias.
"Amanhã, sexta-feira 14, será celebrada a missa exequial às 16:00, na Sé patriarcal. A essa hora poderão os sinos dos templos da Diocese de Lisboa dar os habituais toques de defuntos, reforçando a unidade da oração [...] pelo nosso tão estimado cardeal patriarca", exorta Manuel Clemente na sua mensagem, divulgada no site na Internet do Patriarcado de Lisboa.
Na mensagem dirigida "especialmente ao clero do patriarcado de Lisboa", Manuel Clemente destaca a "grande lucidez" com que José da Cruz Policarpo "sempre leu os sinais dos tempos", homenageando o cardeal também pela sua "entrega total aos sucessivos ministérios que lhe foram confiados na Igreja" e "pela grande bondade com que acompanhou o clero e os fiéis".
"Todos manteremos viva a sua herança pastoral", assegurou.
Cardeal patriarca de Lisboa de 1998 a 2013, José Policarpo morreu na quarta-feira, com 78 anos, numa unidade hospitalar de Lisboa, onde foi submetido a uma intervenção cirúrgica a um aneurisma na aorta.
O corpo do cardeal patriarca emérito será sepultado no panteão dos Patriarcas, no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Alfama.